Sonho ou Realidade ?
René Descartes, filósofo, matemático e físico francês do século XVII, é frequentemente chamado de "pai da filosofia moderna". Sua abordagem metódica e sistemática à filosofia, incorporando a dúvida metódica e o raciocínio dedutivo, foi inovadora para a época. É mais conhecido pela afirmação "Cogito, ergo sum" ("Penso, logo existo"), um elemento fundamental de sua filosofia que reflete sua ênfase na mente como a base da certeza e do conhecimento.
Descartes questionou a definição de percepção da realidade. Ele argumentou que o que é real para um poderia ser visto, de maneira sustentável e genuína, como uma fantasia ou sonho para outro. Ele observou que quando algo se formava em forma de pensamento, ao ser trazido para o papel, poderia contradizer o pensamento original ou pensamentos subsequentes até o momento da manifestação.
Quando algo é manifestado, como por exemplo, um desenho no papel, este pode apresentar características diferentes de todos aqueles pensamentos que, em determinado momento, pareciam reais. Isso porque foram criados por nós mesmos e, portanto, eram algo em que acreditávamos como sendo uma realidade.
O momento da manifestação define o resultado final deste processo de criação. Ou seja, todo resultado que provém de um pensamento no momento que ele é manifestado é válido e por isso poderia ser considerado como a realidade.
Ao se manifestar, aquilo que é construído e que pode ser observado pelo mundo externo pelos canais sensoriais conhecidos, coloca o pensamento original e subsequentes em dúvida sobre se eram reais ou não.
Ainda não encontrei nenhuma resposta para esse ponto trazido por Descartes. Resumindo, onde termina a fantasia e se inicia a realidade e vice-versa?
Acima de tudo, o que isso tudo pode nos ajudar quando falamos de resiliência?
E se começarmos a tratar tudo como possibilidades?
Ao meu ver, isso é uma questão que precisa ser levantada, especialmente se as coisas e pensamentos se contradizem ou criam possibilidades. Partindo do princípio fundamental em que nos baseamos, adotando a concepção intrigante de que o pensamento, de fato, também pode ser considerado como matéria. Esta ideia, embora possa parecer incomum à primeira vista para muitos, é a pedra angular da nossa abordagem e filosofia.
Seguindo essa lógica, temos a questão dos sonhos. Por exemplo, quando sonhamos, consideramos aquele momento como realidade. Nossos canais sensoriais estão em funcionamento e as respostas, sutis ou não, ao contexto do sonho em andamento, muitas vezes são percebidas por um observador externo.
Ao mesmo tempo, quando acordamos, o sonho “vira” uma coisa imaginária, abstrata, e esse mundo onde vivemos, o mundo manifestado, começa a tomar espaço em nossa mente e acreditamos que ele é o real. Então, podemos entender que ambos os mundos podem ser contraditórios também, tanto o mundo dos sonhos quanto o mundo manifestado.
Isso nos leva a um problema, porque é algo que não temos a resposta, inclusive Descartes.
Ele começou a enfatizar que o importante é o pensamento em si, independentemente de sua ideia central. Lembremos a frase: "Penso, logo existo". Nem o mundo exterior, incluindo manifestações e pensamentos alheios, nem mesmo nossos próprios pensamentos, podem ser definidos como realidade. Em geral, tudo que não pensa seria o imaginário, o que não existe, ou pode não existir. Isso é interessante porque introduz uma peça fundamental para a questão da resiliência.
Por quê? Porque muitas vezes falamos de resiliência no momento em que saímos do nosso estado de descanso, de um estado de equilíbrio perante a uma dualidade qualquer, para um outro estado, de caos, de desequilíbrio e muitas vezes tendencioso.
Defino o nosso grau de resiliência como a capacidade de nós retornarmos a esse estado anterior. E o que acontece é que essa mudança de estado, ou seja, traz a ideia de construção de um caminho entre o equilíbrio e o caos. Os criadores deste caminho somos nós mesmos e o criamos dentro da nossa mente. Ele é construído através dos pensamentos, pedra por pedra.
Se como já foi dito que um pensamento, não é sinônimo de realidade, tais pensamentos e consequentemente o caminho criado por eles, podem ser também imaginários. Eles não necessariamente trazem um significado em si, não trazem a verdade, eles trazem uma verdade, uma possibilidade.
Além dos pensamentos, a nossa postura e sentimentos perante determinadas situações, vão dando as cores finais desse trajeto, entre o equilíbrio e o caos. Quanto mais longo e árduo for este caminho parecer ser, maior será o desafio de retornar ao centro.
Então, essa questão do imaginário versus realidade, é algo que ajuda a entender se realmente aquilo que estamos pensando é primeiro a única possibilidade e segunda se eventualmente não haveria outras. Ou seja, um entendimento sobre o que Descartes nos traz, é a criação de um gatilho mental, para que iniciemos um processo de reflexão e observação de nossos pensamentos.
Este processo de observação dos nossos pensamentos nos afasta do contexto em si, nos colocando em um ponto de onde podemos utilizar de nossos canais sensoriais de maneira mais ampla.
Quanto mais nos afastamos da questão do problema versus solução, mais vemos a situação como algo mais constante, mais neutro. Para entender isso de forma mais profunda, irei criar um artigo específico para o que estou dizendo aqui.
Uma vida representada por altos e baixos, pode, por exemplo, a título esquemático, ser representada graficamente por uma senoide.
Quando nos afastamos deste gráfico, ele vai se transformando em uma linha, tendendo a uma constante, ou seja, essa oscilação é transformada em algo mais estável e atemporal.
Isso nos permite evitar o desvio do nosso ponto central naquele momento de desconforto e preserva o nosso tanque de resiliência. Isso é muito importante, independentemente da situação que encontramos.
Conclusão
Em resumo, vivemos altos e baixos em várias situações. Imaginários ou não, temos o poder de escolha como percebemos as situações que vivemos. Aceitar o mundo como um mundo de possibilidades e se tornar observador da própria vida, nos ajuda a nos mantermos em nosso centro.